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Mostrando postagens de janeiro, 2012

Silêncio

Quando ela, bela, fala, não consigo escutá-la, pois sua voz é como brisa que se perde pelo ar. Ou como barco vazio o qual, pela imensidão do mar desaparece num errante vagar. Gostaria de tê-la comigo. Passearíamos por ruas e calçadas, por montanhas e vales, por cirros e cúmulos-nimbo ou quem sabe, ficaríamos parados bebendo e cantando, canções e vinhos nessa mesma mesa de bar. Seus cabelos são como estas linhas minhas onde me embrenho sem bússola e sem medo. Se conseguisse convencê-la a ser minha, pra sempre me calaria, e perder-me-ia mudo em seu mundo, seu silêncio, escrevendo palavras simples, dispersas entre os versos, que de meus passariam a ser seus, como eu.

Rapsódia em Desgosto

                Como um antigo rapsodo                 me perco e me encontro declamando, louco                 todas os poemas possíveis.                   Na solidão saudável                 dentro de quatro paredes visíveis                 vago em minha escuridão                 procurando alguma estrela...                 Igual a um poema errante e defectivo                 abandono a beleza perfeita                 das coisas e rimas mundanas                 em favor da   indelével                 verdade caótica e dissonante                 que só existe na solitude dessa vida dos que não se sentem comuns.

Um brinde!

Saiba que, mesmo se eu não te ligar e passarem muitos dias se forem anos e anos de silêncios teu telefone tocar, te chamando minha voz não soar em teu ouvido... Eu sempre vou me lembrar de você. Quando de manhã, depois de acordar você olhar o tapete atrás da porta da sala e no meio de cartas e contas espalhadas não encontrar notícias minhas, saiba o que é certo: Eu sempre vou pensar em você. Nestes dias quentes de sol à pino em que vais aos bares modernos sejam sextas, sábados ou domingos regados à cerveja, rock’n roll e amigos você se encontrar sentada em uma dessas mesas e pensar que também eu ali poderia estar... Não deixe o tempo fechar, chovendo lágrimas em teu coração. Pense que eu talvez esteja longe, noutros cantos, outros bares, bebendo numa mesa daquelas, com uns amigos pensando que você poderia estar aqui comigo. Enquanto eu viver, me lembrarei de você, e me lembrando, vou beber, beber e beber... Sempre pensando em você. Lembrando, bebendo

Minha cahorra

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Chegou um dia suja e amedrontada. Há muito tempo estava sem cuidados. Assim que a vi me apaixonei por ela. Instantâneo sentimento entre nós brotou. Eu estava tão sozinho e sem amigos. Não podia ter encontrado uma melhor. Ela me amou e nada me pediu em troca.

Poema para Mar

Também joguei a pérola de minha alma em Mar de mistérios. Se vejo Mar, bela e sozinha penso em lançar-me também para que suas águas me levem. Dei-lhe um presente azul, onde versos escrevi em mesma cor: sentimentos comuns em palavras decantadas e sinceras de amor. Era março, restavam mágoas. Esperava então, que as águas do fim do mês as levassem além, para sempre – e amém. Eu estava longe de Mar... Eu estava perto do mar. Gosto de ver Mar ao vento, e se a brisa me traz seu perfume como de costume, me lamento por não tê-la e a dor me consome. E somem mundo, razão e palavra. Agora as últimas me voltam... Rapidamente as transcrevo de minh’alma em versos repletos de lamento e paixão. Vou lançar-me, e perder-me em suas ondas. Me deixarei levar à distante ilha no meio de Mar. Estou inerme. Viveria feliz no mar, com Mar, perdido em sua ilha. ............................................

Ode ao meu Reino

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Com meu reflexo no espelho invisível do mundo com meu corpo informe que não sente calor ou frio eu construí a minha torre altiva, etérea e indelével no mundo vasto da poesia. E com o perfume agridoce de mulheres puras ou vadias preenchi cada parte que outrora estivera vazia. E com os espinhos e pétalas das flores que amei espetei-me o dedo para com meu sangue sobrescrever em seu pórtico... Que sou um poeta que anseia e deseja apenas se aconchegar no escuro seio negro da Noite.

Manifesto-me

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Da verdade de falar eu fui calado Do desejo de mudar eu fui podado com silêncio com cordial cuidado. Da esperança do mundo eu estou surdo e mudo. O sorriso o olhar do meu rosto foi rasgado e sobrou na boca o gosto do desgosto amargo. E como a última folha seca minh’alma no outono também já caiu. Me reergo agora, como árvore que brota da semente da árvore que foi derrubada. O mundo que não sou eu é meu outro. Outro que me nega e me exclui. Eu o nego. Assim nos afirmamos. Eu me afirmo: Luz ante esta repulsiva escuridão. Esta tola e covarde humanidade Não sabe o que faz. Não sabe o que escolhe. Não sabe o que diz. Primitiva em sua humildade presa às suas correntes na caverna da mediocridade. Não haverá perdão. Não resta a ela outra forma de redenção: Que venha a guerra e todas as pestes e o macabro ceifador. Eu conheço a verdade, e a verdade me libertou.

versos

Noites a fio vi e ouvi cios de cadelas e mulheres e ron-ronados de gatos e gatas. Noites-dias de vícios ou versos entre colheres garrafas e folhas de papel ao maço onde não encontro abrigo.

DO CONCRETO

Deter a alma Deter o nada Deteriorado Determinado      terminado      terminologizado      termina logo Deter o logos Detecta Delongas Designe Designado      signado      significado Do signo Define Definha o corpo      fim da linha.

Corpo-celeste

Estrela no céu decai de repente cadente constela o azul incandesce-me a retina resplandecente se faz poeira riscando o negro fundo Cerrados meus olhos estão então um pedido faço Antes que se realize entre outros perdido no tempo no espaço me esqueço me desfaço Poeira ascendente sobre um chão estrelado.

Apocalipse

Eu sou o cavaleiro do apocalipse. Hoje revelo-me, antes do esperado dia do eclipse. Em meu cavalo azul cavalgarei entre os astros riscando no vácuo uma imensa elipse. Antes de minha gloriosa aparição faço aos poucos uma piedosa recomendação: Na noite da véspera, dope-se com todas as drogas possíveis e não mais preocupe-se pois encontrarás mundos incríveis bem longe daqui.

Fluema

Ainda há pouco escrevi um poema. Recitei-o, depois de tê-lo lido ao pé de meu próprio ouvido. Recitei-o até ficar rouco e louco, pois é este o meu outro emblema. Eu quero é contrariar o poético sistema. Abdicar de qualquer literário esquema e buscar o mais fluido poema. Fluido poema. Fluido. Poema. Fluema...