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Mostrando postagens de setembro, 2012

Com Licença Poética

"Quando nasci um anjo esbelto, desses que tocam trombeta, anunciou: vai carregar bandeira. Cargo muito pesado pra mulher, esta espécie ainda envergonhada. Aceito os subterfúgios que me cabem, sem precisar mentir. Não sou tão feia que não possa casar, acho o Rio de Janeiro uma beleza e ora sim, ora não, creio em parto sem dor. Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina. Inauguro linhagens, fundo reinos -- dor não é amargura. Minha tristeza não tem pedigree, já a minha vontade de alegria, sua raiz vai ao meu mil avô. Vai ser coxo na vida é maldição pra homem. Mulher é desdobrável. Eu sou." (de Adélia Prado)

Poema de Sete Faces

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"Quando nasci, um anjo torto desses que vivem na sombra disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida. As casas espiam os homens que correm atrás de mulheres. A tarde talvez fosse azul, não houvesse tantos desejos. O bonde passa cheio de pernas: pernas brancas pretas amarelas. Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração. Porém meus olhos não perguntam nada. O homem atrás do bigode é sério, simples e forte. Quase não conversa. Tem poucos, raros amigos o homem atrás dos óculos e do bigode. Meu Deus, por que me abandonaste se sabias que eu não era Deus se sabias que eu era fraco. Mundo mundo vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, não seria uma solução. Mundo mundo vasto mundo, mais vasto é meu coração. Eu não devia te dizer mas essa lua mas esse conhaque botam a gente comovido como o diabo." (de Carlos Drummond de Andrade) *Gauche - palavra de língua francesa que significa torto, esquerdo, mas aqui parece ter a conotaç

Poema Torto

Quando nasci, veio um cara de branco desses de letra mal-cuidada me deu um tapa e disse: Chora Leandro, e segue sua vida. Só esqueceu de dizer que chorar de nada adianta. Como também de nada adianta amar, sofrer e se apegar, mas a gente chora, ama, sofre e se apega pra tentar fugir da solidão. Mulheres desfilam derrières e pernas. Homens acompanham com os olhos. Eles se amam, se pagam, procriam. Depois se cansam, se ofendem, machucam. Donde se conclui: a vida é feita de dor embora nem todo parto o seja. Deus meu, deus nosso por que me deste a vida sem perguntar-me se eu lha queria. Vida, vida, louca e velha se eu me chamasse Carlos ou Adélia esses versos seriam melhores e talvez tivessem mais coração. Mundo, mundo, vago mundo, ser gauche é minha condição. Dedicado a Carlos Drummond de Andrade e Adélia Prado. Escrito nos dias 07 e 09 de Setembro de 2012. ..........................................................................................